«Grupos de fiscais entram à luz do dia em pequenos estabelecimentos. Em restaurantes à hora de almoço, em lojas em plena manhã. Com polícia e um aparato de força. Nunca se viu algo semelhante num centro comercial. Estamos afogados em impostos, mas em impostos que não tratam de forma idêntica os pagadores. E ninguém percebe para que servem porque os serviços públicos são cada vez piores. O modelo redistributivo do pós-guerra, quem tem mais paga mais, reverteu-se. 75% de toda a massa de impostos já é paga pelos rendimentos do trabalho. A cereja no bolo é colocarem os contribuintes a exercer funções de trabalhadores de impostos, verificando facturas online. Não sendo os sindicatos de alfândega, finanças, etc parte do Estado – triste memória histórica de sociedades onde os sindicatos eram controlados pelo Estado – mas da sociedade, não caberia a estes uma palavra sobre esta e outras medidas que os envolvem a eles directamente num sistema fiscal injusto e que não raras vezes os coloca a vigiar quem menos tem? Devem fazê-lo porque a máquina fiscal deve ser justa, mas também em defesa da sua saúde mental enquanto trabalhadores – nenhum profissional com saúde mental gosta de ser sistematicamente colocado a exercer funções que sabe que são erradas, e não visam o bem comum. Imagino que entrar numa padaria de 2 metros e dizer «tirem o dinheiro todo da caixa» coloque quem o faz no mesmo estado de sofrimento mental – de, usando o termo correcto da psicologia laboral, ausência de empatia, sofrimento no trabalho – do dono da padaria».
Excerto do debate no nosso programa semanal Último Apaga a Luz, RTP 3.