APELO PELA PALESTINA, PELO CESSAR-FOGO IMEDIATO EM GAZA E PELO FIM DA REPRESSÃO POLICIAL E ESTATAL CONTRA QUEM LUTA PELOS DIREITOS DO POVO PALESTINIANO NO MUNDO

Sou subscritora, com dezenas de colegas de vários países, deste apelo internacional académico, da área da educação e do trabalho em solidariedade com os estudantes em luta pela Palestina nas Universidades. A quem queira juntar o seu nome link em baixo.

APELO PELA PALESTINA, PELO CESSAR-FOGO IMEDIATO EM GAZA E PELO FIM DA REPRESSÃO POLICIAL E ESTATAL CONTRA QUEM LUTA PELOS DIREITOS DO POVO PALESTINIANO NO MUNDO

Nós, membros da comunidade académica, professores, estudantes, trabalhadores e cidadãos, tomando conhecimento das mobilizações de estudantes e professores de numerosas universidades, que se enquadram na grande mobilização que se desenvolve à escala mundial, em particular nas universidades norte-americanas, em defesa do povo palestiniano objecto da agressão genocida do Estado de Israel,

⎼ manifestamos a nossa total solidariedade com os estudantes, professores, académicos e cidadãos em luta e repudiamos veementemente as medidas de repressão e violência contra eles que têm sido noticiadas; exigimos a cessação de qualquer medida de repressão a quem luta pelos direitos fundamentais do povo palestiniano;

⎼ e exigimos, com eles, o corte total de todos os laços institucionais directos e indirectos das academias e universidades com o Estado de Israel e suas instituições e empresas.

A operação de arrasamento completo da faixa de Gaza tem um balanço, sempre crescente, de dezenas de milhares de mortos civis, crianças, mulheres e velhos. Com a operação do exército israelita contra Rafah, onde se concentra grande parte da população que fugiu do resto da faixa de Gaza destruída, as proporções da matança aumentam sem cessar.

Associamo-nos ao sobressalto que percorre o mundo face a este crime contra a humanidade.

Reconhecemos nele a consequência de um Estado construído sobre o apartheid étnico e confessional, a colonização e a denegação do direito à autodeterminação do povo da Palestina.

Notamos que este genocídio só é possível pelo apoio, orçamental, financeiro, militar e industrial que o Estado de Israel recebe das grandes potências, nomeadamente dos EUA e dos países da OTAN e da UE, que mergulham o mundo no caos das guerras guiadas pela pilhagem e pelo lucro.

Afirmamos o nosso apoio incondicional ao povo palestiniano na sua luta pela realização da aspiração fundamental de qualquer povo à autodeterminação e à democracia, baseada na absoluta igualdade de direitos entre todos os habitantes, independentemente da etnia ou confissão religiosa, e no direito de retorno de todos os palestinianos à sua terra, aspiração partilhada por um número crescente de judeus em Israel e em todo o mundo.

Exigimos o corte de todos os laços diplomáticos, financeiros e institucionais com o Estado de Israel.

Apelamos a uma grande mobilização internacional, na academia e fora dela, em solidariedade com o povo palestino e contra o genocídio.

Cessar-fogo já! Libertação dos presos de ambos os lados!

Não à repressão dos apoiantes e defensores do povo palestiniano!

Palestina livre!

APPEAL

FOR PALESTINE

CEASEFIRE NOW,

END TO POLICE AND STATE REPRESSION AGAINST FIGHTERS FOR THE RIGHTS OF THE PALESTINIAN PEOPLE ALL OVER THE WORLD

We, the undersigned members of the academic community, professors, students, workers and citizens, learning of the mobilisations of students and professors in numerous universities in the context of the great mobilisation taking place worldwide, particularly in North American universities, in defence of the Palestinian people subject to the State of Israel’s genocidal aggression,

⎼ declare our full solidarity with the protesting students, teachers, academics and citizens and strongly repudiate the repressive and violent measures against them that have been reported; we demand any measure of repression against fighters for the fundamental rights of the Palestinian people to cease;

⎼ we further join them in demanding that all institutional ties, both direct and indirect, of our academies and universities with the state of Israel and its institutions and companies be forthwith severed.

The operation to wipe out the Gaza Strip is taking an ever-increasing toll of tens of thousands of civilian deaths, including children, women and old people. The Israeli army’s operation against Rafah, where a large part of the population that fled the rest of the destroyed Gaza Strip is concentrated, means the scale of the killing will keep constantly increasing.

We join in the shock that is sweeping the world at this crime against humanity.

We recognise in it the consequence of a state built on ethnic and confessional apartheid, colonisation and the denial of the Palestinian people’s right to self-determination.

We note that this genocide is only possible because of the budgetary, financial, military and industrial support that the State of Israel receives from the great powers, particularly the US, and the NATO and EU countries, which plunge the world into the chaos of wars for plunder and profit.

We affirm our unconditional support for the Palestinian people’s struggle to realise a fundamental aspiration of all peoples, that of achieving self-determination and democracy, based on full equality of rights for all its inhabitants, regardless of ethnicity or religious confession, and the right of return of all Palestinians to their land ⎼ an aspiration shared by a growing number of Jews in Israel and around the world.

We demand the severing of all diplomatic, financial and institutional ties with the state of Israel.

We call for a major international mobilisation, in academia and beyond, in solidarity with the Palestinian people and against genocide.

Ceasefire now! Release all prisoners on both sides!

Stop repression of supporters and fighters for the Palestinian people!

Free Palestine!

Adriano Zilhão

economista

Alex Callinicos

Emeritus Professor of European Studies, King’s College London

Ana Charro Garcia

psicóloga

André Carmo

geógrafo, professor universitário e sindicalista

André Coggiola

Universidade de São Paulo

António Dores

ISCTE-IUL

António Garcia Pereira

advogado, professor universitário aposentado ISEG/UL

António Paço

professor

António Pedro Dores

sociólogo

Arlene Clemesha

USP

Beatriz Protazio

Programa de pós-graduação em Letras, Universidade Estadual de Maringá

Caio navarro de toledo

Unicamp

Carlos Zeron

USP

Duarte Rolo

psicólogo, investigador, ISCTE

Eddie Cottle

University of Witwatersrand

Elisa Costa Pinto

professora ensino secundário

Elisabetta Santoro

Universidade de São Paulo (USP)

Everaldo de Oliveira Andrade

professor universitário, USP

Fabiane Previtali

professora universitária, UFU,

Fábio de Oliveira

Universidade de São Paulo

Flavio Wolf de Aguiar

Universidade de São Paulo

Gabrielly

UEM

Heitor de Souza

médico, investigador UFRJ

Helena Krippahl

Particular

Helena Krippahl

Engenheira

Henrique Soares Carneiro

USP

João Areosa

professor IP Setúbal

João Jaime

professor ensino secundário

João Matos

doutorando Universidade de Coimbra

José Casimiro

Mov. Solidários

José Santana Henriques

ISCTE / SOCIOLOGIA

Luiz Bernardo Pericás

Universidade de São Paulo (USP)

Luiz Renato Martins

historiador e professor universitário, USP

Márcia Malcher

(Universidade Federal do Pará/UFPA/Amazônia

Maria Augusta Tavares

professora universitária aposentada

Maria de Fátima Ferreira Queiróz

Universidade Federal de São Paulo

Maria Orlanda Pinassi

FCL/UNESP

Miguel Amaral

professor universitário IST

Omar Acha

Universidad de Buenos Aires

Osvaldo Coggiola

Professor universitário, historiador USP

Pamela Peres Cabreira

professora, historiadora

Paula Marcelino

USP

Paula Varela

Profesora de la Universidad de Buenos Aires, Investigadora del CONICET

Pedro Vicente

NA

Pietro Basso

Univesity Ca’ Foscari

Ralph Darlington

Professor of Employment Relations at Salford Business School

Raquel Varela

historiadora, professora universitária, FCSH-UNL

Ricardo Festi

professor universitário, Universidade de Brasilia

Roberto della Santa

cientista social, CEG

Roberto Leher

Universidade Federal do Rio de Janeiro

Rosane de Sá Amado

Universidade de São Paulo

Rubén Veja

Universidad de Oviedo

Rui Albertto Pimenta Rodrigues

Faculdade de Ciencias e tecnologia de UNL

Rui Pereira

professor universitário

Savvas Michael-I MATSAS

University of Athens

Sean Purdy

Professor of History, University of São Paulo

Sílvia Jardim

psiquiatra, UFRJ

Sueli Angelo Furlan

DG-FFLCH-USP

Tercio Redondo

Universidade de São Paulo

Tiago Franco

Engenheiro Informático

Victor Pinto

Faculdade de Letras da Universidade do Porto (ex-aluno)

Waldir Beividas

USP

Waldo Ansaldi

Profesor e investigador Facultad de Ciencias Sociales, Universidadde Bueos

Yassamine Mather

University of Oxford

De Pé Sobre a História – O Mundo do Trabalho

A história global do trabalho em Portugal. Série documental de 5 episódios com apresentação da historiadora social Raquel Varela.Série documental de 5 episódios que narra a história global do trabalho em Portugal e as suas interligações no mundo, para celebrar o 50º aniversário da revolução dos cravos (25 de Abril de 1974). 
A série baseia-se numa narrativa que salienta a mundialização, as contradições da modernidade e as interligações entre economia e cultura, política e modos de vida. Participam trabalhadores manuais e intelectuais, académicos como Alain Supiot ou Marcel van der Linden, Bervely Silver e Dave Lyddon. 
A narrativa centra-se na ideia geral de transformação e discordância dos tempos, tendo o 25 de Abril de 1974, a Revolução dos Cravos, como ponto nevrálgico da prefiguração de uma nova forma de viver em sociedade.

https://www.rtp.pt/play/p13282/e764131/de-pe-sobre-a-historia-o-mundo-do-trabalho

https://www.rtp.pt/play/p13282/e764070/de-pe-sobre-a-historia-o-mundo-do-trabalho

https://www.rtp.pt/play/p13282/e764361/de-pe-sobre-a-historia-o-mundo-do-trabalho

https://www.rtp.pt/play/p13282/e765443/de-pe-sobre-a-historia-o-mundo-do-trabalho

https://www.rtp.pt/play/p13282/e765445/de-pe-sobre-a-historia-o-mundo-do-trabalho

Un demi-siècle après la Révolution des Œillets au Portugal, chronique d’un peuple en mouvement (1974-1975)

Entrevista que dei sobre história do PREC – em francês traduzida.

Pour ce vingt-neuvième épisode du podcast L’allumeur de réverbères, qui coïncide avec les commémorations des cinquante ans de la Révolution des Œillets, qui eût lieu le 25 avril 1974 au Portugal et mit fin à 48 ans de dictature salazariste, nous avons choisi de revenir sur le processus révolutionnaire, bien souvent méconnu, qui suivit cette journée du 25 avril. Un processus de 19 mois au cours desquels le Portugal connût un mouvement social et un climat révolutionnaire jamais vu dans le pays, avec des milliers de grèves, de manifestations, d’occupations d’usines, d’entreprises et d’équipements publics, de logements vides, de propriétés terriennes – bref, des moyens de production.

Les 19 mois qui succèdent le 25 avril 1974 constituent un foisonnement d’expériences d’autogestion, de cogestion et de démocratie participative, avec une dualité des pouvoirs entre, d’un côté, les pouvoirs publics, et de l’autre des centaines de conseils ouvriers et de travailleurs, de conseils de soldats dans l’Armée, et de conseils d’habitants dans de nombreux quartiers.

Pour revenir sur l’ensemble de ce processus, sur ses enjeux, et pour nous aider à déconstruire un certain nombre d’idées reçues sur ladite Révolution des Œillets (en référence aux œillets rouges plantés dans les fusils des soldats) – notamment le mythe d’une « révolution sans morts », qui occulte les 13 années de guerres décoloniales qui ont pourtant largement motivé le coup d’État du 25 avril –, nous avons donné le micro le 26 février dernier, en visio, à :

  • Raquel Varela, historienne, chercheuse et enseignante à l’Université nouvelle de Lisbonne, et autrice de plusieurs ouvrages parmi lesquels l’essai Un peuple en révolution. Portugal – 1974-1975, publié en 2014.

En complément de cet entretien, et pour aborder les effets et les perceptions de la dictature salazariste et de la Révolution des Œillets sur les Portugais ayant émigré en France (plus de 900 000 exilés entre 1957 et 1974), nous avons également donné le micro, le 15 avril dans le 20ème arrondissement de Paris, à :

  • José Vieira, arrivé en France, plus précisément dans un bidonville de Massy, à l’âge de 7 ans en 1965, aujourd’hui réalisateur d’une trentaine de documentaires et auteur du livre Souvenirs d’un futur radieux, publié en mars de cette année.

L’épisode du podcast est accessible sur nos différentes plateformes de diffusion en version française, mais également en version portugaise (dont vous pouvez trouver les différents liens sur la page du blog lusophone O acendedor de lampiões Meio século depois da Révolução dos Cravos, crônica de um povo levantado (1974-1975).

http://www.lallumeur-dereverberes.com/2024/04/un-demi-siecle-apres-la-revolution-des-oeillets-au-portugal-chronique-d-un-peuple-en-mouvement-1974-1975.html

Números Lixados

Os números são lixados, como a Troika. Em 2011 Portugal tinha 10 milhões e meio de pessoas, hoje tem 10 milhões e 400 mil, como se pode acusar os imigrantes de colapso dos serviços públicos como saúde, educação e habitação? Não há médicos, professores, enfermeiros, porque foram obrigados a imigrar e os que chegam do Nepal ou do Bangladesh são também obrigados, esta miséria de mundo, cada vez mais rico onde milhões de pessoas têm que imigrar para garantir as taxas de lucro e que faz dos migrantes mão de obra barata, aliás faz das pessoas “mão de obra” é uma tristeza, mas só por falta de seriedade se pode acusar um alegado aumento da população que não existe. Os que chegam e os que saem são os mesmos. Paga-se uma dívida pública milionária a associações de usuários e banqueiros, que Brecht diria criminosos, e é isso que deita abaixo os serviços públicos; vendem-se casas para especulação a estrangeiros, é isso que faz colapsar a habitação.

Outro número: não é por causa da greve dos funcionários judiciais que a violência doméstica não é combatida, só na região de Sintra e Mafra faltam 40% de funcionários judiciais, e os concursos, com salário mínimo, nem são preenchidos. Foi contra isso que a greve foi feita, ou seja, para as pessoas terem serviços públicos.

Outro número: o número total de médicos especialistas nos hospitais do SNS é de 15 mil, mas só 2.500 estão no regime de dedicação exclusiva. Porque os salários e as condições de trabalho não lhes permitem sobreviver se só trabalharem no público. Não é porque no privado são melhores, é porque são obrigados a dupla jornada.

Utopia no Jornal Globo


HQ leva história da Revolução dos Cravos às novas gerações
Em tom de reportagem, ‘Utopia’ foi produzido pela historiadora portuguesa Raquel Varela em parceria com o ilustrador mineiro Robson Vilalba
Por Télio Navega— Rio de Janeiro
12/05/2024 03h31  Atualizado 12/05/2024

O movimento que derrubou a ditadura de quatro décadas em Portugal e ficou conhecido como Revolução dos Cravos completou 50 anos há poucas semanas, e já que todo fim de tirania deve ser comemorado, a editora Veneta acaba de lançar no Brasil o quadrinho “Utopia”, produzido pela historiadora portuguesa Raquel Varela em parceria com o ilustrador mineiro Robson Vilalba.

Lançado simultaneamente em Portugal com o mesmo antetítulo — “as revoluções são impossíveis até se tornarem inevitáveis” —, atribuído a Leon Trótski, a HQ é uma reportagem em quadrinhos que tem como protagonista um personagem real chamado José.

— Nos conhecemos em ações de solidariedade com trabalhadores de Portugal em luta por melhores condições de emprego — lembra Raquel, que, além de professora da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, é autora do livro “A história do PCP na Revolução dos Cravos”. — Gosto muito de banda desenhada (como são chamados os quadrinhos em seu país) e, 50 anos depois, queria levar a história da Revolução dos Cravos às novas gerações.

No início da história, ilustrada com um tom levemente abstracionista, José é uma criança muito pobre, que vivia com a família na periferia de Lisboa, em um bairro que se chamava Santa Luiza-Pote. Sua mãe, analfabeta, cuidava da casa e dos filhos, enquanto o pai trabalhava como calceteiro, pavimentando ruas e calçadas.

À medida que cresce e se torna adulto, José estuda e aprende sobre política e justiça social também através da música, dos livros e dos filmes, muitas vezes clandestinamente, pois Portugal já vivia uma ditadura desde 1933. A insatisfação com o número cada vez maior de conterrâneos mortos nas guerras coloniais africanas e com o atraso geral do país perante outros da Europa o levam a questionar o governo e a participar de movimentos estudantis e até do próprio exército português anos mais tarde.

Política nos quadrinhos
Raquel acredita que não há dúvidas de que a Revolução dos Cravos, assim como os Pactos de Moncloa, na Espanha, três anos depois, influenciaram a luta pelo fim da tirania na América Latina. A ditadura no Brasil, que durou de 1964 a 1985, é tema, aliás, de uma série de reportagens ilustradas de Vilalba que lhe rendeu, há dez anos, o Prêmio Vladimir Herzog de Jornalismo e Direitos Humanos e viraria livro com o título “Notas de um tempo silenciado” (Besouro Box). Depois, a história do impeachment contra a presidente Dilma Rousseff renderia outro quadrinho de Vilalba: “Um grande acordo nacional” (Elefante). A política, portanto, é um tema caro ao autor. E muita gente costuma reclamar de quem mistura política com quadrinhos.

— Essa pergunta é sempre curiosa pois ninguém pergunta ao pedreiro ou à empregada doméstica se é possível separar seus ofícios da política, pois ela faz parte da vida e do trabalho de todos nós, inclusive dele ou dela — explica Vilalba, que além de ilustrador é formado em Ciências Sociais e mestre em Sociologia. — Sei que existe esse debate sobre “arte panfletária” em oposição a uma “arte livre”. Até a ideia de liberdade precisa ser revisitada em nossos dias: liberdade para quem e em quais condições?

O quadrinista diz que só tem contado histórias sobre a vida e como ele a percebe:

— É inegável que a política tem relação com a nossa vida, assim como a arte, assim como o tijolo, assim como o pão. “Utopia” é sobre um jovem que viveu o espírito de seu tempo de maneira linda, lutou com a família para ter uma vida digna e, mais tarde, lutou ao lado dos seus amigos por tudo que acreditava, e isso me fascina. Gosto de contar histórias sobre a vida, e a vida é política para todos nós.

Com o avanço da extrema direita no mundo, principalmente nos EUA, no Brasil e até em Portugal, com o fortalecimento do partido Chega!, parece que, não importa o idioma, muitos não aprenderam com os erros do passado.

— Nenhuma água de rio corre duas vezes pelo mesmo lugar nem nós somos iguais quando ela passa — filosofa Raquel. — O modelo just in time tem posto os trabalhadores do mundo em competição, mas a produção em cadeia também pode ser usada para ações de solidariedade global. O telemóvel pode nos isolar e nos deprimir com imagens em looping, mas pode ser usado da mesma forma para organizar lutas estudantis pela liberdade na Palestina. A história está em nossas mãos.

Entrevista jornal sindicatos suíços

Os sindicatos suíços financiam um jornal a sério, com jornalistas, investigação, uma esfera pública (não há infelizmente nada semelhante por cá, quando era o padrão no século XIX, jornalismo financiado por trabalhadores e não por publicidade ou pelo Estado), em alemão. Dei esta entrevista para o mesmo. Em alemão, sobre a revolução dos cravos até uma análise dos conflitos sociais e do mundo do trabalho hoje em Portugal.

SocialData

Para que as pessoas conheçam o país e possam pensar por si próprias. Quem somos, quanto ganhamos, como trabalhamos, qual a taxa real de desemprego ou pobreza, o que é ser pobre? Ousar pensar por si, ousar conhecer.

SocialData está aberto a todo o público, em versão experimental. Por favor naveguem e enviem-nos as críticas e sugestões. A ideia central é ser um portal para toda a população, especialistas ou não, sindicatos, media, trabalhadores, totalmente democrático, para que todos possam ter acesso à realidade dos números sobre trabalho e condições de vida em Portugal. Trata-se de um projecto do nosso Observatório para as Condições de Vida, da UNL, e em parceria com várias instituições como o INE, o economista Eugénio Rosa, entre outras.

Navegam e façam sugestões, muito obrigada:

Observatoriocondicoesdevida@gmail.com

https://socialdata.unl.pt/pt/


Coordenação técnica Tiago Franco
Implementação Sofia Taipa.

25 de Novembro: uma “contrarrevolução democrática” 

Raquel Varela, historiadora, Jornal Expresso

A 25 de novembro de 1975 um novo golpe de Estado à direita, liderado militarmente por Ramalho Eanes, conduzido civilmente pelo Partido Socialista – com o apoio da direita tradicional, da Igreja Católica, da NATO e do “Grupo dos Nove”, uma ala social-reformista do MFA –, prende mais de 100 oficiais revolucionários e passa à reserva os soldados das unidades onde a dualidade de poderes tinha ganhado expressão embrionária. O golpe de Estado restaurou a “disciplina” nas forças armadas, acabou com a “sovietização” – na expressão do próprio Soares – nos quarteis, e assegurou a estabilização das instituições, restituindo assim a centralidade do Estado português na forma política de um sufrágio universal, Parlamento eleito , a nova Constituição, que sagraria a fórmula dos direitos, liberdades e garantias e um assim-chamado Estado de Direito.

O fim da revolução dá-se por uma fórmula inovadora, que será depois aplicada na América Latina, nos anos de 1980. Mário Soares lidera esta “contrarrevolução democrática” a 25 de novembro de 1975, quase sem mortos e com amplas cedências sociais (o Estado social e direito ao emprego seguro). É de facto um “empate técnico” – os trabalhadores organizados são por fim derrotados politicamente, mas a burguesia é socialmente obrigada a amplas concessões, ao estilo de França e Inglaterra no segundo pós-guerra (1947); o PCP por sua vez aceitou não resistir (ou terá mesmo pré-negociado?, ainda está por investigar a fundo) ao 25 de novembro, assumindo publicamente – o que demonstrei na minha investigação–, pela mão do seu líder de então, Álvaro Cunhal, que a esquerda militar se tinha tornado um fardo para o PCP porque a sua atuação punha em causa o equilíbrio de forças com os Nove e os acordos de “coexistência pacífica” entre os EUA e a Europa Ocidental e a URSS e o Leste Europeu (Acordo de Ialta e Potsdam). A revolução acabou não por um putsch fascista, como no Chile do General Pinochet, mas num golpe civil-militar de novo tipo, com escassa violência e com diminuta resistência. O chamado poder popular – a dualidade de poderes em acto, a democracia participativa – não tinha coordenação geral de nenhum tipo, nada semelhante a um partido bolchevique existia em Portugal, nem a revolução teve efeitos nos países centrais da Europa – Alemanha, RU e França – apenas na Espanha e Grécia.

Esta ambivalência faz com o 25 de Novembro nunca tenha tido celebrações oficiais em Portugal. É um golpe que então sequer recebe este nome por quem o apoia (fala-se de golpe dos paraquedistas, quando estes foram provocados a sair, para justificar o golpe de direita); foi visto pelas elites dirigentes como uma “necessidade” de “normalização” para pôr fim à “sovietização das forças armadas” e demais esferas da vida. Uma “necessidade” – até à queda do muro, quando o PCP mudará sua posição – também assim percebida pelo PCP, que viu tal golpe como um meio eficaz para controlar a esquerda militar, fora parcialmente do seu alcance. Na minha opinião o PCP agiu a la Barcelona em 1937.

O PS oferecia uma terceira via – “escandinava”, dizia-se – contra uma URSS estalinista ditatorial e o imperialismo hegemónico norteamericano. Essa narrativa falhou em duas dimensões. O PCP nunca quis fazer uma revolução em Portugal (queria Angola), e a “Europa connosco” nunca teve lugar. Portugal é já um dos países mais pobres da Europa Ocidental – depois de poucos anos de alívio na sequência da revolução social –, Soares vai, no fim da vida, coerente, erguer-se contra o ordo-neoliberalismo alemão, alguns militares que fizeram o 25 de Novembro, olhando os vis efeitos das políticas austeritárias a partir de Cavaco Silva, questionaram-se, entretanto, se teria valido a pena. 

As celebrações dos 50 anos da Revolução dos Cravos – sem surpresa, diga-se – são pouco unânimes. Deputados, quadros e votos dos partidos da direita tradicional e democrata-cristão (o PSD e o CDS em reedição da “Aliança Democrática”), migraram para o novo Partido Chega, com elementos de neofascismo, fazendo desparecer o CDS e tornando difícil a uma ala mais liberal do PSD, de onde sai o seu principal dirigente, sobreviver à deriva neofascistizante nas suas próprias fileiras – as velhas e novas direitas altercam-se e amalgamam-se entre si numa plêiade ultraliberal e hiperconservadora que abarca sectores neofundamentalistas cristãos, inclusivamente fatimistas. A nova vontade de se celebrar o 25 de Novembro emerge daqui. A nova extrema-direita plasmada no anti-comunismo da IL e no neofacismo do Chega, normalizado pelos media como “liberais” ou “direita radical”/“extrema-direita” apresentam-se às regras do jogo. Querem celebrar o 25 de Novembro pelo que foi, isto é, um golpe de Estado contra a democracia no trabalho, contra a dualidade do poder popular, enfim, o início do fim da revolução. O princípio da reconstrução do aparelho de Estado capitalista para uma nova reconversão produtiva (e política): de uma burguesia dependente do trabalho forçado – e das colónias africanas – até 1974 para uma burguesia de hegemonia limitada ou um protectorado de facto, dos investimentos, máquinas e capitais alemães, franceses e ingleses (e norteamericanos, espanhóis, chineses, ou outros).

A “contrarrevolução democrática”, conceito político central para apreender o que realmente se passou em Portugal, mostra cada vez menos democracia, e cada vez mais contrarrevolução. Não à tôa, como disse o Padre Martins Junior de modo acutilante, temos 50 neofascistas no hemiciclo depois de 50 anos da Revolução de Abril. A palavra de ordem não poderia ser mais atual: 25 de Abril sempre, fascismo nunca mais.

https://expresso.pt/semanario/primeiro/a-abrir/duelo/2024-05-03-faz-sentido-o-estado-criar-uma-comissao-para-assinalar-o-25-de-novembro–d439771c

O Recém Nascido

O Fascista já foi bebé – imperdível

O actor brasileiro Pedro Cardoso tem em cena um monólogo brilhante em forma de comédia sobre um fascista. Ressentido por ter nascido, em diálogo permanente entre Freud e Hitler, odeia o pai, o canalha que lhe rouba os seios da mãe, a protecção daquele ser por quem tem ódio e paixão, um maníaco no fundo, vai crescendo desprezando todos os que não viviam para ele, não tem amigos, apenas interesses, é ciumento, morre de inveja, é incapaz de amar, vive todos os dramas – aliás, de ir às lágrimas de tanto rir, do individualismo patológico – até que acaba a dizer qualquer coisa irracional, está pronto para ser candidato por um partido fascista. Os microfones estão lá à espera dele, os jornalistas, na sua maioria, são o veículo público da irracionalidade, escutam-no, não interessa se o que ele diz tem qualquer racionalidade ou verdade. Não há fake news, é mesmo tudo fake, o líder fascista, as suas propostas, a sua existência. O Pedro Cardoso vive em Portugal há anos, sequer vou entender porque um dos actores maiores do Brasil apenas apresenta a sua peça – genial – no pequeno teatro TIO (Teatro Independente de Oeiras). Não pelo TIO, que está de parabéns, mas porque se vêem poucas vezes peças da qualidade do Recém Nascido. Se por acaso não conseguem ouvir notícias porque é como ir ao cinema ver um líder evangélico obscurantista a gritar que vai levar a verdade ao reino da Pátria, vão ver a peça “Recém Nascido”, é um teatro de comédia que nos trás de volta à racionalidade e à realidade, à política com P Maiúsculo.

Utopia

Sobre a banda desenhada que publiquei com o Robson, ilustrador:

A todo tempo nos sentimos como observadores participantes, não propriamente como protagonistas de uma história individual, mas sim de uma história coletiva.

Observador participante porque José não assiste inerte aos acontecimentos. Do seu jeito, tentando entender o que se passa e tomando sua própria consciência da situação, vai amadurecendo e se tornando um revolucionário.

José cresceu em uma família muito pobre e teve uma infância cercada pela miséria de um país preso a uma ditadura longeva, sem assistência social e que se afundava em uma injusta guerra contra as suas colônias – guerra essa em que o lado colonizador progressivamente perdia. Ao passo que observamos – e relembramos com José – o passar do tempo, também aprendemos imensamente qual era o contexto social da época – com toda a didática e propriedade que uma dedicada professora e pesquisadora de história pode nos presentear.

Os traços esfumaçados de Vilalba, por vezes leves, em outras precisos ou pesados, expressam com maestria a sensação de estarmos “sonhando” uma lembrança, mas também experimentando outras possibilidades de “estarmos juntos”.

Mesmo que a Revolução de Abril tenha sido efêmera e definhado nos conluios da contrarrevolução após 1975, disfarçados pelo discurso de “normalização democrática” – e as contradições desse processo são abordadas na obra – ela foi responsável por inúmeras melhorias nas condições de vida da população e demonstrou como é possível acabar com a dinastia do autoritarismo, da tortura e do colonialismo.

Extremamente sensível e didática, Utopia é como os cravos nos canos das armas dos soldados portugueses é um gesto forte e singelo de corações abertos e sedentos para e por uma nova história. Um gesto que ensina.

O Fascismo não são ideias, é Violência

50 deputados neofascistas, normalizados como Parlamentares, entrevistados por jornalistas como normais membros de “direita radical” ; e agora milícias a atacar imigrantes com o líder Ventura a explicar que se trata também de fazer justiça contra roubos ( para quê tribunais se tudo se pode resolver à porrada? Porque não armar a população e resolver tudo assim, sem verificar quem rouba, se rouba, sem tribunais, apenas com pancada sem julgamentos?)

Ao mesmo tempo que Ventura não debate as posições de Marcelo, mas imitando todos os fascismos na história ameaça silenciá-lo e a quem ao Chega se opõe usando a justiça (pública, sendo que o Chega recebe 4 milhões ano de subvenções dos nossos impostos, são para pagar o fim da liberdade de expressão com ameaças em tribunais?). Para quando uma gigante manifestação em Portugal contra o fascismo e a violência, o racismo e a barbárie ou vamos esperar que o mesmo Estado que legaliza e promove estas ideologias nos media as combata? ; uma manifestação contra os processos de Ventura contra a liberdade de expressão que vão de Ricardo Araújo Pereira, jornalistas críticos até Marcelo? Ou o país vai ser assim: à facada e com processos em tribunal contra o debate livre?

Uma pergunta: algum grupo/partido fascista alguma vez disse uma palavra sobre empresários que usam mão de obra migrante semi escrava e a seguir despede os migrantes abandonando-os? Ou são as leis do mercado a funcionar? Outra pergunta : é uma prova de honra da “família tradicional” um homem mais forte bater num mais fraco ? Um legal num sem-papéis ? Um armado num desarmado?

Retornados

Alguns retornados – nome que em Portugal são referidas as pessoas que regressaram das ex colónias em 1975, sobretudo -, escreveram-me porque acham errado, alguns mesmo indecente (vivemos num mundo de gente indignada e pouco debate de ideias), eu ter afirmado, que não “tinham direito a nada”. Afirmei e disse mais – o facto de que muitos nunca tinham vivido em Portugal não lhe dá direito a nenhum bem, terras ou propriedades em Angola, Moçambique ou Guiné. É essa a minha opinião.

Didier Eribon tem um livro “Regresso a Reims” onde escalpeliza o seu passado numa vila operária de França e lembra que a avó foi colaboracionista, pela pobreza tornou-se amante de um oficial alemão nazi que ocupava a França, quando veio a libertação a avó foi humilhada e ostracizada publicamente e acabou por fugir abandonando os filhos, e isso teve um impacto na vida dele, na mãe dele, abandonada, sem poder estudar, além de uma série de traumas e relações tóxicas. Há milhares de mulheres pobres que decidiram ir para a resistência ou pelo menos trabalhar em fábricas para não se prostituírem com nazis. Está na moda equiparar e “respeitar” todas as escolhas. Não. As pessoas não são iguais. Milhares de judeus fugiram de Israel nos últimos anos, alguns foram presos por estar contra o Estado ocupante de Israel, estão do lado dos Palestinianos. Outros estão banhados em sangue de crianças palestinianas e nunca se lavarão desse drama que vai ditar quem são, como pensam, como são incapazes de amar ou viver em paz até consigo próprios.

Milhares de portugueses, sobretudo nos anos 1940-50, alguns antes, foram colonizar as terras de África ao serviço dos grupos económicos e do Estado-português que enriqueciam com o trabalho forçado até 1974. Foram colonizar depois das “campanhas de pacificação” e massacres, guerras armadas sistemáticas desde o fim do século XIX até 1961 levadas a cabo por Portugal. Depois começa a guerra. Sangue, sangue e mais sangue essa é a história idílica por trás das festas de África, com pedras de gelo, ao fim da tarde, que paisagem inesquecível… Ao serviço dos Mello e Champalimaud, Lima Mayer entre outros notáveis. Os colonos – mais tarde retornados – trabalhavam na construção até à administração, uns tinham vidas frugais outros enriqueceram.

Outros milhares de portugueses, na verdade mais de 1 milhão, preferiram ir para França para não ser colonos, e para fugir a matar “pretos” e “terroristas” na guerra colonial, e foram trabalhar como escravos nas fábricas automóveis ou como porteiras. Outros ainda foram para a resistência ao fascismo. Há PIDES e há quem lute contra os PIDES. E há quem colabora e há quem fuja, mesmo optando por vidas piores. Somos as nossas escolhas e as nossas escolhas arrastam-se por décadas – foi isso que escreveu Eribon.

Nos últimos anos tem havido um revisionismo histórico feito, por exemplo pela jornalista Helena Carmo, idealizando o mundo dos retornados. Ora a obra da historiadora Dalila Cabrita Mateus há 3 décadas demonstram que os informadores da PIDE em Portugal-metrópole se escondiam, já nas ex colónias andavam sem vergonha na rua e quando entravam num hotel os colonos levantam-se e faziam-lhes vénias…

O preço do colonialismo foram décadas de trabalho forçado e na guerra 100 mil mortos entre 61 e 74 do lado dos movimentos de libertação e civis. Cem mil! Guardem este número de uma vez. Esse número esquecido – que publiquei pela primeira vez na “História do Povo na Revolução” -, quando a historiografia e os media publicavam apenas os mortos do lado português – 9 mil. Escolhas. Mais uma vez, somos as que fazemos.

Claro, há muitos retornados decentes e até muitos que apoiaram os movimentos de libertação. Tenho amigos entre eles, grandes amigos. Gente igual por dentro gente igual por fora. Porque não somos só passado, somos o que escolhemos ser hoje. Muitos retornados, uma minoria, escolheram estar do lado dos oprimidos e não dos opressores. Fizeram a escolha mais difíceis porque em geral significava um combate contra o regime e contra a família.

Este texto não é sobre reparações. Escreverei sobre isso noutra altura. Para mim não há lugar a reparações, há lugar a lutar hoje por mudar o mundo. Este texto é apenas para dizer que os judeus que estão a apoiar o Estado de Israel tomaram uma decisão que vai determinar quem eles são. E os judeus que estão contra o genocídio em Gaza também, bem como os jovens judeus estudantes que acampam nas universidades pela Palestina. Somos as nossas escolhas. E deixamos esse legado.

A descolonização foi trágica. Mas, apesar de tudo – até porque os retornados foram essenciais como base de apoio ao golpe do 25 de Novembro para pôr fim à revolução – meio milhão foram recebidos, numa das maiores pontes aéreas da história, com grande sucesso, incluindo em hotéis na linha de Cascais, e claro pelos familiares. Mas a descolonização não foi trágica por causa de Mário Soares, é outro mito (nunca fui apoiante de Soares, já agora) – a descolonização é sempre trágica porque a colonização é uma tragédia.

Para mim, que sou socialista (tenho que repetir, a la século XIX, defendo a propriedade comum dos meios de produção, não a casa, que é propriedade pessoal) – não devia haver fronteiras nem muros e quem vivia em África e queria lá ficar devia ter tido condições para ficar. Mas isso implicava ter ficado em condições de igualdade e não de ocupação ou neo-colonialismo como é até hoje. Em capitalismo o jogo é soma zero, a casa para um é a expulsão do outro.

Tudo isto é trágico, para quem saiu, para quem ficou, o mundo é bárbaro. Apesar de tudo não podemos igualar quem faz parte da barbárie ou com ela foi cúmplice, e quem luta contra a barbárie. Não sou a favor de reparações mas a haver deviam ser pagas por quem enriqueceu em África, a começar pelas famílias dos grandes grupos económicos, cujo vinhos que bebem hoje, os bons colégios onde estão os filhos a estudar na Suiça, têm a marca da barbárie de ontem – do trabalho forçado, e não do trabalho esforçado dos pais e avós que herdaram, como gostam de dizer.

Tive sorte, mais do que o Eribon, na minha familia, dos dois lados, há gente presa e/ou perseguida a lutar contra o fascismo. Deixaram-se essa herança, a mais valiosa que tenho, nenhum pedaço de terra no mundo compra a consciência. E a consciência é um gigante que vive connosco e nunca dorme.