Há 2 anos estávamos a fazer a ecopista do Tâmega e a bicicleta furou a 12 km de Amarante. Avistava-se um doloroso caminho de regresso. Graças à errada divisão do trabalho manual e intelectual, que torna o capitalismo hiper lucrativo, nós pertencemos ao grupo dos totalmente incapazes que nada saber fazer de manual, nem mesmo arranjar um simples furo. Restava-nos vociferar contra os Deuses, e seguir caminho. Um ciclista parou, sério, perguntou se precisávamos de ajuda, e em 5 segundos, talvez 4 segundos, tirou a câmara de ar sobressalente dele, trocou a nossa e seguimos caminho. Tentámos pagar-lhe a câmara de ar e ele disse-nos ofendido “jamais”. Ficámos com o contacto, pelo menos que passasse pela nossa terra e nos deixasse oferecer um copo de vinho. Este ano voltámos, e desta vez fomos as duas famílias, nossa e do Kikas, ciclista de longos caminhos, fazer de novo a ecopista, desta vez 30 longos km de pura diversão, paisagens lindas, e ainda jantámos, almoçámos, enfim, grata pelo bem dito furo que nos trouxe esta amizade. Ontem em conversa uma querida amiga defendia que há um mal que nasce connosco, vemo-nos como objectos desde o início. Ela é lacaniana. Tenho dúvidas, e não tenho certezas. O que há em nós de naturalmente mau (competição) há também de naturalmente bom (cooperação). Somos um complexo de nós e das nossas circunstâncias. Os tempos são porém mais sombrios porque o Kikas não vem no Jornal. Nem o Sr. Pimenta, que arranja esquentadores e que veio há duas semanas, liguei-lhe, oiço um barulho estanho, ele veio logo, tirou a caixa e desapareceu o barulho. E ainda se riu, disse-me que os esquentadores têm medo dele – ficam bons mal ele aparece. Quis pagar-lhe a deslocação, era o mínimo, respondeu-me determinado “nós não trabalhamos assim, não fiz nada, não recebo nada”. Hoje fui ao Mercado, não frequento centros comerciais a não ser obrigada, estava na conversa, conheço cada um dos vendedores, esquecemo-nos se as farinheiras tinham 440 gramas ou 450 gramas, eu disse ponha 450, ela respondeu-me, “não, 440, estou doente, quero estar de bem com a minha consciência, se é para ficar prejudicado nunca devem ficar os clientes”. Estas pessoas não vêm no jornal. No jornal temos banqueiros que roubam o que já foi roubado do roubo e roubarão o que está para vir a ser roubado. Tudo isso dá-nos uma ideia sombria da vida, como se não existisse alternativa à profunda degeneração da humanidade. As pessoas comuns não vêm no jornal. Quero crer porém que são uma parte importante e ainda assim significativa destes 7 mil milhões que por cá andam.
Bom regresso Raquel Varela, você faz cá falta…
Vou começar com uma leviandade. As pessoas que sabem fazer coisas, vulgarmente são boas pessoas! Claro que é uma leviandade ou mesmo um disparate.
De qq forma, tenho-me confrontado com isso, mais do que uma vez.
Como tb gosto de fazer mtas coisas, e sei do prazer que me dá utilizar essa capacidade para tornar alguém feliz, estou sensível à satisfação que vejo estampada no rosto de quem ajuda, nomeadamente quando eu sou o ajudado.
Talvez a isto não seja indiferente o facto de quem gosta do que faz, nomeadamente no trabalho que faz como profissão, é mais feliz. Dificilmente alguém faz mal algo de que gosta, logo, se calhar, se gostamos de fazer algo e fazer isso pode tornar alguém mais feliz ou, pelo menos, menos infeliz, isso constitui uma felicidade!
Se nós pensarmos só um bocadinho, é muito fácil construir felicidade.
Difícil é conseguir fazer con que esta mensagem passe.
Por outro lado, isto não quer dizer que nos devamos só focar nestas felicidades passageiras – se praticadas como se fosse esta a forma normal de estar em sociedade – porque pode ser contraproducente. O acto de não termos paciência para reflectir e preferirmos papaguear o que é repetido, leva-nos a agir das formas mais reprováveis, quer por acção, quer por inacção, porque….. sim!
E pique sim, não damos ate ção a quem a merecem e idolatramos os maiores idiotas ou reverenciamos os maiores escroques!
Obrigada por esta perspectiva solar do nosso mundo, por a trazer afinal para as notícias. Faz-nos tanta falta!
Isto diz tudo : “as pessoas comuns não vêm no jornal”, eu diria mais ; os operários e demais trabalhadores esses nunca, uma imprensa a soldo e toda a sorte de jornalismo e jornalistas de m…, sem coluna vertebral,