Um Governo abaixo do mínimo

E o impensável tornou-se realidade, serviços mínimos decretados para defender o indefensável. Esta greve da Ryanair acontece depois do Sindicato do Pessoal de Voo (que tinha rompido com a UGT) no ano passado ter saído vitorioso de uma greve onde apenas, reitero, apenas exigia que a Ryanair cumprisse a legislação laboral portuguesa, que não é digamos…a da Escandinávia. Por exemplo, os trabalhadores da Ryanair não têm direito a licença de paternidade, conheço alguns (estudamos desde há 1 as suas condições de vida num projecto) que meteram “baixa psicológica” para poder acompanhar os filhos à nascença. Passaram a ter estes direitos depois da greve do ano passado. Greve especial, em que houve solidariedade europeia, e solidariedade dos fixos da TAP para com eles (solidariedade material, e mais não digo). Este Sindicato é um exemplo de uma Europa unida e solidária contra o dumping.

Em resposta a Ryanair, que foi subsidiada durante 9 anos pelo Estado português em Faro – sim, pagámos a estes cavalheiros isenção de taxas – decidiu que não pode cumprir a legislação e anunciou o despedimento colectivo dos trabalhadores de Faro. Pode ser pior, por incrível que pareça? Pode. É que a Ryanair não anunciou só o despedimento colectivo, anunciou vai manter a operação trazendo trabalhadores do estrangeiro para fazer o trabalho dos despedidos de Faro.

O que fez António Costa? Decretou serviços mínimos aos grevistas. Caro cavalheiro de boa fortuna, CEO do barco negreiro, decretamos que os escravos do porão não podem sublevar-se porque os negócios não podem parar. É urgente circular a mão de obra escrava, que vem civilizar o mundo!
Vou poupar-vos por agora às condições que se vive no porão da Ryanair, onde a venda de raspadinhas é parte do salário e quem se porta mal é chamado à Irlanda aos recursos humanos, e paga a estado lá do seu bolso. A licença de paternidade é uma das, mas há muito pior. Por agora, ocorre-me apenas um curto comentário a este fatídico dia, ouvi-o de um trabalhador dirigente da Comissão de Trabalhadores da Groundforce do Porto, que carrega as nossas malas (e as nossas esperanças), José Luis Teixeira: “requisição civil precisa o Governo e os Governos. Nunca cumpriram com os serviços mínimos.” Um Governo corajoso usava a TAP para repor essas rotas, incluía os trabalhadores despedidos na sua frota e mandava a Ryanair ir traficar, perdão, voar, para outro planeta.

2 thoughts on “Um Governo abaixo do mínimo

  1. Quem achar que a Ryanair não se comporta devidamente, pode tomar uma decisão fácil : não viajar na Ryanair. Eu não viajo !
    Acrescento : é impensável que uma companhia actuando em Portugal, não cumpra as leis do País

    • Frederico, isso não é apoiar os trabalhadores da Ryanair. É “matá-los”. Eles necessitam de trabalho e para isso a empresa tem que ter clientes.
      Eu viajo na Ryanair porque sou devidamente atendido pelo pessoal de bordo e porque as tarifas são das melhores. Contribuo para que tenham emprego/trabalho mas isso não quer dizer que apoio as políticas de trabalho da direção, muito menos o facto das empresas portuguesas terem que cumprir a legislação laborar portuguesa e competir com uma Ryanair que acha que pode fazer o que quer.

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