Aquecimento global: os 97% são menos de 50%

Afinal não são 97%, são menos de 50% os cientistas que acham que o aquecimento global é indiscutível. Respirem fundo e venham comigo ao maravilhoso mundo dos números. E do que eles ocultam, porque se apoiam na ignorância estatística da larga maioria da população.

Todos os “cientistas” que por aqui apareceram foram publicando notícias de jornais onde se dizia que 97% da comunidade científica achava que havia aquecimento global e que era causado pelo homem. Eu que não sou climatologista nem estudo o assunto – nem por ele me interesso particularmente (embora este seja um tema mobilizador da esquerda em Portugal, percebi) vi, em segundos, que era impossível 97% da comunidade cientifica posicionar-se de uma forma determinista sobre um tema tão complexo, porque jamais o faria mesmo sobre um tema não complexo. E chamar-lhe ainda por cima “consenso”. Sendo cientista, de outra área, sei bem que o tempo da ciência é felizmente mais lento e consistente que o tempo da informação, malgrado outros defeitos que possamos ter, e temos. A pergunta óbvia que me coloquei, logo: Como tinham chegado a este número? Por votação? Inquérito a todos os cientistas do mundo? Quantos seriam os cientistas que num assunto tão complexo iam queimar-se a defender sem cautela uma posição que leva duas décadas de intensos estudos?

Não, afinal é muito menos de metade. Eu explico-me. Um grupo analisou 11 944 resumos de papers, em 20 anos. Vejam, já ficam de fora 1) Os que estudam e não publicaram papers, milhares. 2) Os que publicam mas em revistas não indexadas, milhares. 3) Da contabilidade do estudo ficaram ainda de fora comunicações em congressos, livros, debates públicos. Não percebi se são só os indexados na ISI Thompson, se sim, o número fica ainda mais restrito.
Este grupo de pessoas pegou nos resumos dos artigos, indexados, e cruzou duas palavras chave nos resumos dos papers (repito, não leu os papers, cruzou os resumos): “mudanças climáticas” e “aquecimento global”. 66,4% dos resumos, colectados em 22 anos (1991-2011) não expressavam qualquer opinião sobre se havia ou não aquecimento global. Repito, 66% dos resumos analisados.

32,6% defendiam que sim, 0,7% explicitamente rejeitavam, 0,3% explicitamente diziam ter dúvidas. Dos que manifestaram opinião – 34% – 97% disse não ter dúvidas que era causado pelo homem. Que os media repitam este absurdo (fazer de uma estatística inferior a 50% uma ampla maioria) eu aceito, embora seja crítica. Salva-se a excepção do Guardian que publicou uma nota sobre como se tinha chegado a este número. Que os cientistas que aqui caíram no meu mural, explicando serem doutorados no tema, e mais uma batalhão de ecologistas que estudaram muito, e de quem eu tenho muito medo porque adoro alheira, o tenham repetido não é grave. É gravíssimo. Pois eu sou historiadora, gosto de arquivos velhos e de trabalhar a 24 graus, é esse o meu clima, ou seja, de clima nada percebo, e percebi – em décimos de segundo – que jamais qualquer comunidade científica séria adere como numa claque de futebol, na escala de 97%!, a uma hipótese em estudo.

Informo-vos, em primeira mão, que há outras dezenas de estudos sobre o tema, ou seja, quantificação dos cientistas que aderem à tese (já agora confesso absurdo isto tudo, em ciência estuda-se, não se arregimentam militantes! – imagino a irem lá ao meu gabinete a “senhora adere à tese do 25 de Abril foi um golpe de Estado ou uma revolução? Faça uma cruzinha na resposta certa”).

Não tenho tempo para ler todos os outros estudos sobre quantificação das opiniões dos cientistas, mas referem – segundo percebi na diagonal – coisas interessantíssimas como os dados, se desagregados por especialidade – geologia, climatologia, especialistas em terra ou oceanos região, do mundo, etc. – ainda são menos consensuais.

Não há qualquer consenso na comunidade científica. Se me perguntarem acho que é uma notícia maravilhosa. Consenso em ciência seria uma péssima notícia.
Já dizia a minha avó, resumo desta história, cautela e caldos de galinha. Galinha do campo, para fazer bem.

http://onlinelibrary.wiley.com/…/10.1…/2009EO030002/abstract

https://www.theguardian.com/…/meteorologists-global-warming…

http://iopscience.iop.org/…/meta;jsessionid=B165B2EA19820CE…

10 thoughts on “Aquecimento global: os 97% são menos de 50%

  1. Quase como tudo parece ser uma grande conspiração. Tal como questões estranhas que nunca ninguém responde sem por em causa qualquer coisa, nem que seja um pouco da sanidade mental. Afinal a terra é ou não o centro do Universo? Afinal a terra é ou não é redonda? Afinal há ou há mudanças climáticas? Há ou não respostas certas para isto?

  2. Os 97% säo óbviamente um chaväo, no entanto tenho estudado o tema há vários anos
    e näo encontrei um único estudo ou opiniäo de especialista da climatologia que discorde com o aquecimento global. O que é disputado por alguns é o papel da humanidade nesse aquecimento. O aquecimento em si é (muito) difícil de disputar porque as medicöes säo feitas por vários organismos independentes entre os quais o IPCC da ONU. A causa humana do aquecimento é realmente disputado por alguns cientistas, mas os grandes campeöes da causa näo säo climatologistas (detalhe importante).
    O dado mais interessante é que enquanto discutimos se o principal motivo é ou näo a actividade humana, notamos que todos os climatologistas dizem que uma subida da temperatura média do planeta em 2 graus terá seguramente consequências cataclísmicas e que acrescentam que pra isso estamos no bom caminho. Ou seja, independentemente dos motivos do aquecimento ele está a acontecer. E agora?

    • O que muitos cientistas têm contestado é o papel do CO2. Felizmente subiu, porque desse modo tivemos grandes aumentos da produção agrícola. Interessante que até há pouco tempo todo o bloco de esquerda alinhava em uníssono na teoria do aquecimento pelo CO2. A ideologia (religião) tem disto.

  3. Não tendo factos onde se apoiar, o que fazem os “aquecimentistas” (como dizem os verdadeiros cientistas brasileiros) é recorrer a mentiras e falácias, para tentar enganar as pessoas. E, até os dados relativos a temperaturas, que são apresentados por revistas como a conhecida “Nature”, já foram denunciados como tendo sido falsificados: h*tps://www.prisonplanet.com/climategate-for-dummies.html

    Toda a gente que investiga, por si próprio/a, este suposto fenómeno sabe que é de uma *enorme mentira* que se trata – incluindo quem diz que é verdade. Só mesmo os ignorantes e os ingénuos, que acreditam em tudo o que lêem e ouvem, é que estão iludidos.

    O “aquecimento global antropogénico” é uma mentira criada com fins políticos (ocultos) e com a qual está a alinhar uma grande parte da suposta comunidade científica: h*tps://pplware.sapo.pt/informacao/energia-limpa-em-2030/#comment-1966377

  4. Muito interessante este artigo. No sentido que demonstra claramente que ninguém sem conhecimento científico, neste caso climatologia, deve argumentar no sentido oposto do que é o consenso da comunidade científica.

  5. Resumindo…
    97% dos papers que tinham uma OPINIÃO diziam existir aquecimento global…e 0,7% dos estudos que tinham uma OPINIÃO diziam não existir.
    Presumir que lá por um estudo não ter opinião ou conclusão sobre um assunto é sinal que tem dúvidas sobre esse assunto e tentar assim passar a ideia que apenas 30% dos cientistas acreditam no aquecimento global é ridiculo e manipulador.

    Também é ridículo querer juntar à sondagem “estudos” fora da esfera científica (papers publicados e avaliados pelos pares) como por exemplo aqueles maravilhosos estudos de think tanks da indústria petrolífera.

  6. Pingback: todo um mundo, do clima à beterraba – a essência dos dias

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