Utopia

Sobre a banda desenhada que publiquei com o Robson, ilustrador:

A todo tempo nos sentimos como observadores participantes, não propriamente como protagonistas de uma história individual, mas sim de uma história coletiva.

Observador participante porque José não assiste inerte aos acontecimentos. Do seu jeito, tentando entender o que se passa e tomando sua própria consciência da situação, vai amadurecendo e se tornando um revolucionário.

José cresceu em uma família muito pobre e teve uma infância cercada pela miséria de um país preso a uma ditadura longeva, sem assistência social e que se afundava em uma injusta guerra contra as suas colônias – guerra essa em que o lado colonizador progressivamente perdia. Ao passo que observamos – e relembramos com José – o passar do tempo, também aprendemos imensamente qual era o contexto social da época – com toda a didática e propriedade que uma dedicada professora e pesquisadora de história pode nos presentear.

Os traços esfumaçados de Vilalba, por vezes leves, em outras precisos ou pesados, expressam com maestria a sensação de estarmos “sonhando” uma lembrança, mas também experimentando outras possibilidades de “estarmos juntos”.

Mesmo que a Revolução de Abril tenha sido efêmera e definhado nos conluios da contrarrevolução após 1975, disfarçados pelo discurso de “normalização democrática” – e as contradições desse processo são abordadas na obra – ela foi responsável por inúmeras melhorias nas condições de vida da população e demonstrou como é possível acabar com a dinastia do autoritarismo, da tortura e do colonialismo.

Extremamente sensível e didática, Utopia é como os cravos nos canos das armas dos soldados portugueses é um gesto forte e singelo de corações abertos e sedentos para e por uma nova história. Um gesto que ensina.

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