António Araújo, a História e a Farsa

António Araújo, um tipo que anda apostado numa reabilitação soft de Salazar, resolveu tirar os seus dias para escrever uma série de disparates num blogue de “crítica literária”. As suas palavras não tem qualquer interesse do ponto de vista histórico ou como crítica de livro mas têm um interesse histórico sobre o qual me debruçarei – como a farsa, num mundo relativo tão querido aos pós modernos, é alvo de respeitabilidade.

A crónica que escreve seria devolvida a qualquer aluno do 1º ano de um curso, porque não respeita o domínio científico básico. Eu explico: a um historiador ou crítico, quando se pede uma crítica, pede-se uma crítica, não uma crise ideológica. Ou seja, teses, inovações, insuficiências, fontes, bibliografia. O autor não reconhece as teses principais do livro (a dualidade de poderes, a tensão entre Estado e Revolução, o controlo operário), não reconhece as fontes utlizadas, (não sabe sequer o que é uma fonte primária, embora assine como “historiador”, escrevendo que utilizo “escassas fontes primárias” quando utilizo centenas, de 8 arquivos de 3 países), corta frases (literalmente corta, para atribuir sentido inverso ao que escrevi), confunde conceitos centrais (Estado, crise), retira bocados inteiros do contexto, atribui como tese central duas teses opostas ao que defendo (uma apregoada tensão entre elites e povo e a defesa do pacto social, ambas amplamente criticadas no texto). Depois diz que afinal uso o conceito de elites porque vai buscar um trabalho meu publicado “há anos sobre o tema”. Encontra uma legenda com uma data errada, que está como tal classificada no arquivo CD 25 de Abril – que claro não cita -, e diz que a data tem uma semana de erro…Populares estavam a festejar os militares? Claro que estavam, no dia 25 de Abril e nos dias seguintes, no Carmo ou na Alameda dominou o “povo com o MFA”. Um fanático conservador que é assessor de Cavaco Silva e diz que “nunca precisou de bolsas da FCT na vida”. Talvez lhe fizesse bem uma bolsa, nem que fosse para começar a aprender o que é uma fonte primária.

A qualidade deste texto, num país que colocou na prateleira dezenas de jornalistas, críticos literários, escritores, mostra o nível em que está o debate intelectual em Portugal, e neste caso, o uso da mentira que aparece legitimada como simples opinião ou crítica livre. Vamos ver se em curtas linhas eu digo o que penso: uma mentira não é um ponto de vista, é só uma mentira.

Com o devido respeito conto não voltar a esta personagem, porque como trabalha no campo da farsa, vai vencer-me pela experiência.

5 thoughts on “António Araújo, a História e a Farsa

  1. (…) E, em 1961, foi o seu annus horribilis. Como se vê, Salazar andou sempre a ter que gerir uma série de conflitos e sensibilidades antagónicas. Com isto não estou a louvar Salazar – nada disso. Mas penso que muitos dos nossos historiadores ainda estão excessivamente centrados na lógica repressiva do salazarismo. (…) em entrevista ao Expresso.

    Ó Araújo olha ali, tu não precisas dizer-nos o que louvas ou não louvas, basta que saibamos que foste escolhido por Cavaco para seu assessor. Basta! Pim!

  2. Acabo de ler que critica violentamente a nomeação de Rita Rato para dirigir o Museu do Aljube, Resistência e Liberdade… por ela ser “revisionista”. É caso para perguntar que outras profissões devem ser proibidas a “revisionistas”, nos critérios deste revolucionário cavaquista.

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