Enviado por um trabalhador da TAP que, para evitar represálias e assédio moral, pede anonimato. Do fim do direito à amamentação que estava estipulado, a quebras de salário de 1200 euros, a poder ser contactado a qualquer hora, incluindo nas folgas, 24/24 horas e ser enviado, sem base em Lisboa ou Porto, para qualquer lado, na verdade é uma espécie de uber – fiquei na dúvida se Portugal foi ao Qatar ou o Qatar está a vir para Portugal…
Antes uma nota muito curta. Tenho insistido estes anos todos numa ideia que tenho muita dificuldade em explicar. É esta: se os trabalhadores da TAP ganham muito mal, os médicos e os professores ganharão pior. O que fixa o preço de força de trabalho num país é o salário médio na indústria/logística etc. Se um trabalhar vale 900 euros, o médico que o vai tratar só trata até 900 euros, ou seja, clínica básica, e não saúde complexa; o professor vai ensinar-lhe e aos filhos umas competências elementares e não conhecimento. E se os médicos necessários são os indiferenciados e os professores necessários são os que sabem o mínimo e têm um currículo a ensinar mínimo de competências não há porque lhes pagar bons salários porque, do ponto de vista da economia capitalista, as pessoas não valem todas o mesmo, valem segundo o mais-valor (lucro para simplificarmos) que produzem. Assim, a greve na Auto Europa, a greve na TAP, a greve no metro sul do Tejo que decorrem, entre muitas outras, são greves pelos professores e pelos médicos, como, vice versa, as greves destes são greves dos trabalhadores da TAP e do Metro. os trabalhadores necessitam de solidariedade não só porque é bonito (e nos faz bem à alma), mas porque é a economia que o dita. Há uma interconexão entre os preços da força de trabalho no Mercado.
Uma última adenda crítica que é inevitável para sermos sérios uns com os outros: Os sindicatos, na sua maioria, adormeceram na Geringonça, e insistem em não construir solidariedades entre sectores. Aceitaram, e quanto a mim erradamente, sucessivos planos de “restruturação” que destroem a vida de quem trabalha com promessas vazias. Se isto não muda a vida das pessoas não muda e a crise sindical é imparável.
De trabalhador de cabine:
“Proposta TAP aos tripulantes de cabine da empresa. Inenarrável. Insultuosa.
3 categorias de comissário de bordo (de 4 em 4 anos)/actualmente sao 5 (de 3 em 3 anos).
Supervisor (topo da carreira) perde 1200 euros no vencimento
Tripulantes, perdem em média, 450euros líquidos.
Voar por FTL tal e qual (FTL: Flight time limitations: é a base geral do regulamento de quem tem uma profissão dentro de um avião) Hoje regula o AE vigente ou o que for melhor para o trabalhador, caso se verifique isso no FTL.
Vigência deste acordo de empresa no máximo para 5 anos.
Parentalidade:
Exigir que as licenças tenham dias mínimos
Deixa de haver complementos.
Deixa de haver possibilidade de trabalho em terra.
A amamentação termina e passam a ter funções em terra. Ou seja, deixa de existir a obrigatoriedade de nomearem as mães para serviços de voos com o máximo de 9h (ir e vir para casa) entre as 06:30 e as 20:30. Passa a não existir regra nenhuma. A criança que beba leite Ucal…
Já desapareceu o infantário que o campus da TAP possuía para os seus cerca de 7000 trabalhadores, tendo em conta as particularidades de ser uma empresa que trabalha 24/7 todos os dias do ano, especialmente numa empresa onde pai e mãe são funcionários. Era um infantário que acolhia os filhos dia e noite e serviu de exemplo a muitas outras empresas, ensinando o que deve ser uma empresa que em 2019, tinha cerca de 11000 trabalhadores.
Formação inicial de um tripulante paga (nunca foi e fica assim, mais um negócio e forma de extorquir, ainda por cima, sem garantias de assinatura de contrato, após a formação onde também se pode chumbar)
Subsidio de férias seria só sobre o ordenado base e vencimento de senioridade.
(…)
O tripulante pode prestar serviço de terra, se a empresa entender.
Zonas endémicas, pandémicas e em guerra: empresa não é obrigada a consultar o tripulante se deseja voar para esse destinos. Passa a ser obrigatório sem nenhuma compensação.
A composição de tripulações (número de tripulantes por avião) passa a ser a mínima obrigatória fazendo tábua rasa do tipo de serviço a bordo (várias classes, inúmeras rotinas de serviço)
Lugares de descanso/tomada de refeição, nos voos de longo curso, deixam de existir.
Contacto aos tripulantes pode ser a qualquer hora inclusive folgas.
Alterações ao planeamento mensal são realizadas quando querem.
Fim de semana duas vezes em 2 meses.
A assistência pode ser feita fora da base. Ou seja, mandam-nos para Luanda e ficamos ali a fazer voos dentro de África e voltamos para casa, dias depois como a empresa entender. Actualmente o serviço de assistência é exclusivamente na base de cada tripulante, constando essa premissa no seu contrato de trabalho. (Lisboa ou Porto)
Tempos de trabalho regidos pelo FTL. Desaparece a tabela mais favorável que consta do AE em vigor.
É beneficiado quem não falta. Quem falta seja por que motivo for (doença, nojo, assistência à família, etc) fica penalizado na progressão de carreira por períodos de um ano.
Períodos noturnos e circadianos desaparecem. Para a TAP passa a ser sempre de dia!
Estabilidade do planeamento (é alterado por acordo ou por disfunção) ou seja, sempre. Porque disfunção e irregularidades são o pão nosso de cada dia.
(…)
Benefício a quem cede folgas e quem avance em período de férias. ( convite à disrupção)
Regulamento base operacionais
Os tripulantes que entrem na TAP, são colocados na base que a empresa entender durante ano e meio!! Hoje isso não existe, quando se concorre, a base é Lisboa. Mais tarde, e por escolha do trabalhador, este pode mudar a sua base para o Porto. E é a empresa que abre esse oportunidade, de acordo com as suas necessidades. E os tripulantes interessados, aceitam ou não, de acordo com a sua antiguidade na empresa.
Coordenador de cabine em vez de chefe de cabine. Abre caminho para a sua extinção e permite que um voo saia sem esse tripulante com essa função.
(…)
Progressões na carreira: sim desde que não hajam faltas, seja de que tipo forem, ainda que justificadas. (podem aguardar o tempo que eles entenderem para subir de categoria)
(…)
– Contratos a termo ou sem termo a decisao da empresa baseado no processo individual (absentismo, produtividade). Actualmente cada tripulante passa a efectivo, no limite, pelo que do a lei geral do trabalho, ou passe do quadro de médio curso para o quadro de longo curso (quando se entra na TAP, apenas se integra o médio curso).
Obrigado pela leitura.”
A leitura foi feita, nem vou comentar…