Estado de Pavor Permanente

Ao ouvir as notícias do atentado não consegui deixar de pensar em Eça, neste país sempre a ser quase. O entusiasmo de polícias de Estado a explicar que impediram uma catástrofe terrorista. A ser verdade o anúncio já de si era estranho, já que nestes casos caberia à polícia agir, impedir e ficar em silêncio em vez de criar alarme e medo. Mas o retrato que se desenha é de um jovem com problemas graves de saúde mental. Se eu tivesse o talento de Eça, o seu sarcasmo, diria que nem para atentados servimos. Neste caso, ainda bem. Não sou nem serei nunca especialista em história do terrorismo, há outros temas na história mais interessantes, mas o terrorismo tem sido esse conceito de costas largas que muito antes da pandemia abriu espaço ao Estados de excepção na democrática Europa, à pilhagem imperialista para nos “proteger” dos malvados, desta vez islâmicos, ontem comunistas, amanhã outra veste. Sei porém que em história, qualquer história, exige-se cuidado com os conceitos, não se chama o mesmo a coisas diferentes. A história é uma ciência, gosta de precisão. Não se compreende como se pode chamar o mesmo – terrorismo – a atentados organizados em rede com estrutura política e até Estatal e de massas em discotecas, ruas, transportes etc. com um jovem, tudo indica doente, que compra um arco e flecha. Fico feliz que nada tenha acontecido, mas espantada com a alegria de um país que todos os dias de afunda mais um bocadinho, sempre aumentando o tom da música.

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2 thoughts on “Estado de Pavor Permanente

  1. Como diria um saudoso amigo meu; temos governos de caca, temos uma justiça de bradar aos céus e, temos jornalistas de bosta…
    Por fim: “Os políticos e a as fraldas são semelhantes, possuem o mesmo conteúdo” (Eça de Queirós)

  2. O texto da Raquel vem mesmo a propósito pelo corajoso desmonte e objectiva denúncia. Gostaria de ir um pouco mais longe para verberar o inenarrável aproveitamento guloso e oportunista que todos os media fizeram a respeito do alegado terrorista ou aspirante a isso.
    Praticamente todos os amanuenses de serviço, uma espécie de pseudojornalistas mergulharam de cabeça, esforçando-se por esmifrar o assunto até ao mais ínfimo detalhe, assim tipo queda da ponte de Entre-os-rios. Ele eram alargados debates com “especialistas”, criminologistas e outros -istas por tempos sem fim em todos os canais, como se mais nada houvesse para noticiar neste desgraçado país. Até o prof Martelo que tem resposta para tudo e em tudo tem de meter a colher, entendeu dizer uns lugares-comuns, embora recusasse pronunciar-se sobre a eventualidade da guerra na Ucrânia, como se de minudência se tratasse. Já não há mais pachorra para estes empolamentos cretinos e balofos, alimentados só para entreter o pagode.

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