Lembra Enzo Traverso, em ‘Melancolia de Esquerda’, que vivemos num tempo de valorização extrema da vítima. Assim, na consideração pública, «a memória do Gulag apagou a da revolução; a memória do Holocausto suplantou a do antifascismo; a memória da escravidão eclipsou a do anticolonialismo: a recordação das vítimas parece não poder coexistir com a lembrança das suas esperanças, das suas lutas passadas, das suas conquistas e derrotas.» É como se muito do que de positivo teve o passado, como exemplo até para o presente que vivemos, desapareça esmagado pelo que aconteceu de mais negativo. Todavia, em Traverso o diagnóstico não representa um nostálgico lamento, funcionando antes como ponto de partida para um apelo ao movimento.
Via Rui Bebiano