A gravidade destes testemunho que aqui partilho é que ele é brutal, mas não é único. Os locais de trabalho são hoje lugares fora da lei, a pandemia serviu para abrir um vazio que permite toda a arbitrariedade, a democracia está suspensa, está suspensa para grandes empresas, está suspensa também em alguns sectores do trabalho no Estado. As condições de trabalho estão fora de controlo. Coagidos a assinar falsos documentos, como este caso, em falsos layoff; assédio moral intensificado; burlas à Segurança Social; falsas falências; horários fora da lei, com gente em teletrabalho, na Educação, a responder a emails às 2 da manhã; processos disciplinares no sector dos transportes sem puderem ir a advogados ou reunir os sindicatos; despedidos com o aval da protecção do Governo de forma ilegal, como ontem demonstrou a reportagem da SIC no Porto de Lisboa, no caso dos estivadores; trabalhadores a ser formados para substituir os despedidos em escolas abertas para o efeito, sem legalidade. Estamos numa República de Bananas e para tal impedimos a greve de quem pode, através da greve, repor alguma legalidade.
“Boa tarde Dr.ª Raquel Varela,
Chamo-me …sou Gestor de Recursos Humanos formado no…e atualmente estou a colaborar com uma empresa de Trabalho de Temporário no setor da Construção.
No dia em que foi decretado o Estado de Emergência, eu e os meus 6 colegas de escritório, como todos os portugueses tememos pelos nossos postos de trabalho, mas fomos prontamente colocados em TELE-TRABALHO.
1. Duas das colegas do escritório que têm filhos, foram convidadas a assinar o documento da Segurança Social apesar de irem trabalhar para casa as 8 horas em tele-trabalho
2. Em termos da atividade, à exceção de 2 projetos dos 46, onde temos aproximadamente 200 colaboradores, nenhum outro projeto parou ou dispensou colaboradores, antes pelo contrário foram colocados ainda mais efetivos. Alguns obviamente já se encontram no Hospital com confirmação de positivos de COVID19.
3. Os do escritório mantiveram-se em teletrabalho até ao dia 9 de Abril, dia em que todos os colaboradores do escritório foram convidados a assinar um Lay-Off com data de dia 1 de Abril.
4. Como o comunicado que nos foi dado para assinar sob coação foi mal redigida, nem sequer descrevia qual o modelo de Lay off se seria Total ou Parcial. Tal criou dúvidas e apreensão em toda a equipa do escritório
5. Após essa comunicação de Lay-off, todos nós continuamos a ter de nos apresentar todas as manhãs às 9:00 como estando operacional e a ser coagidos a apresentar relatórios no final do dia com as tarefas realizadas
6. Como se não bastasse, foram travadas a emissão de facturas aos clientes no sentido de simular uma quebra de faturação para forçar as condições exigíveis para pedido de apoios à Seg. Social.
Como neste momento tenho sido eu a única pessoa, que tem colocado algumas questões relativamente às condições do Lay-off, fui intimado a apresentar-me no escritório para me esclarecerem as dúvidas, ao que me recusei informando que estava de quarentena e não ia infringir as normas da Direção Geral de Saúde, creio estar para breve a instauração de um processo disciplinar para o qual já me encontro a reunir argumentos, para conversar nos locais convenientes. Oportunamente darei noticias!…
6. Tomei algum do precioso tempo da Raquel apenas para partilhar esta nova noção de conceito de TELE – LAYOFF – Trabalhadores em Lay-off coagidos a desenvolver atividade laboral normal.
O problema do nosso país não são as pandemia, é a forma como nos organizamos em sociedade!
Tal como relativamente aos empresários, infelizmente graça a falta de ética e o sentido de oportunismo!
Chamo-me…Mas naturalmente solicito o anonimato porque este país é um país estranho!
Grato pela atenção
Subscrevo-me com consideração e respeitosos cumprimentos e apreço pela forma como defende os valores da liberdade, direitos e garantias. Muito obrigado Raquel!”
Muito obrigado Raquel! de partilhar este testemunho.
“… este país é um país estranho”. Merecia outro adjetivo!
Não só por falta de organização, na maioria dos casos estão nessas instituições, amigos dos amigos e correligionários. E os profissionais competentes são afastados por não serem partidários deste ou daquele partido… E fico por aqui…
A maioria dos empresários, são um bando de exploradores, e aproveitam estas alturas , como já sucedeu para se librarem dos trabalhadores…Também tem tido o apoio dos sucessivos governos, e da chamada União Europeia…