COVID-19 Medo e Esperança

A Turquia não deixa levantar voo o avião em direcção a Espanha, que vinha da China, com 1500 ventiladores já pagos, diz que são para os doentes da Turquia. Dizem que a Mossad já está no terreno a lutar pelos ventiladores de Israel. Trump desvia para os EUA máscaras destinadas à polícia alemã. Merkel diz que é um acto de pirataria. Marx, fala a mesma língua de Merkel, sai da tumba e pergunta-lhe “mas há capitalismo sem pirataria?”. Eanes assegura que sim, diz que se encontrou com o Pastor Malthus, ressuscitado nesta Páscoa, o pastor-economista teórico da super população que, dizia ele, uma epidemia reequilibra o capitalismo: na escassez, que sobrevivam os mais fortes, é para eles o ventilador. A DGS, Trump e até a OMS, à medida que a China retorna à produção e faz milhões de máscaras, pagas com salários de uma tigela de arroz ao mês, diz que vai rever os critérios e que talvez todos devam usar máscaras. O Estado de Emergência proíbe a greve e agora até as associações sindicais de participarem na legislação laboral, enquanto isso pagamos mais de mil milhões de euros em PPPs rodoviárias; há dezenas de hospitais privados fechados, entre eles o do SAMS, mas muitos mais, com uma capacidade instalada de luxo, em vez disso colocam-se umas camas, iguais ao século XIX, no meio de um pavilhão e Cham-lhe “hospital de campanha”. Os hotéis portugueses estão vazios, os recuperados do COVID-19 não podem ir para as suas casas, ficam nos hospitais a ocupar camas, porque em casa não podem ficar isolados. A pouco e pouco epidemologistas do mundo inteiro explicam a pandemia era evitável com outras medidas, a quarentena foi o fim da linha, depois de tudo falhar. Empresas de lucros gigantes como a FNAC, Decathlon, e tantas outras aderem ao layoff, despedem os trabalhadores que serão pagos a 70% pela Segurança Social ou seja, a reforma dos portugueses despedidos e dos idosos que estão em casa; os estivadores de Lisboa com contrato fixo foram despedidos e a mesma empresa acaba de colocar nos jornais públicos recrutamento aberto de trabalhadores precários para os substituir – pirataria? Dos banqueiros do mundo, os tais que pediram salvação do risco sistémico, ainda ninguém viu um euro, uma máscara, um gel de limpeza, pelo menos que lhes limpe a face, já que a honra não se salva.

Em Espanha o maior sindicato da saúde vai levar a Tribunal por homicídio por negligência o Estado, por não ter dado equipamento de protecção aos profissionais de saúde que morreram. Em França médicos e enfermeiros juntam-se dizendo que não querem caridade, querem produção em massa de equipamento de protecção, em Toulouse manifestam-se em frente do Hospital, dizendo o óbvio, “não abandonamos os doentes, mas não sufragamos este Estado que nos abandonou a nós”; nos EUA chega uma carta dizendo que se substituirem os estivadores de Lisboa vão bloquear as cargas que cheguem de Portugal. No meio do mar de piratas, marinheiros mostram-nos uma estrela polar, de solidariedade e resposta efectiva. É só um começo – alguém que nos diz que não temos que escolher os mais fortes, que não há escassez, há incúria. É um alento ter estivadores norte-americanos solidários com os portugueses, médicos e enfermeiros franceses e espanhóis que se erguem, enquanto os serviços secretos de um país roubam os ventiladores do outro.