Costa, o homem que só fala com generais

António Costa não está atento aos sinais. Eu nunca tive grande espírito antropológico mas reconheço grande importância à simbologia. Costa não terá reparado que a Fectrans, da CGTP, esteve sentada ao lado da Antram num debate televisivo e que a esta hora centenas de anónimos estão a entregar o cartão do sindicato à CGTP explicando que “há limites”. Costa não terá visto que os motoristas, perante todas as ameaças, vis, e fim do seu direito à greve, cantaram o grito dos estivadores de Setúbal “Nem um Passo Atrás”. Por mais que as televisões odeiem os motoristas, nas filas da gasolina é muito difícil encontrar alguém que se diga contra a greve (e isto quando as pessoas estão a ser filmadas e também têm medo de perder o emprego pelas suas declarações). Na verdade o que a larga maioria diz é “estou aqui a meter gasolina”. Costa não viu que todos os dias novos sindicatos nacionais e internacionais aderem solidariamente à luta dos motoristas. Costa está encantado com o seu poder que oscila entre a requisição civil, proibição da greve, sindicâncias e coloca Vieira da Silva a explicar-nos que greve é quando ele quer, como ele quer e só se ele quiser, nos termos que ele mesmo quer.

Costa, faça comigo uma conta simples. O ISEG publicou um estudo onde prova que em Portugal com menos de 1000 euros não se vive decentemente – provou aliás que esse deviam ser o mínimo real, não o médio, que devia ser muito superior. Mais de 80% dos portugueses, que não tem acesso à opinião publicada, ganha entre 600 a 800 euros, e com isso não consegue viver. Os motoristas podem tornar-se na verdade, se não faltarem com os interesses da população, um exemplo de interesse nacional: um exemplo de luta sindicais democráticas contra a burocracia da CGTP e da UGT; um exemplo de resistência ao autoritarismo estatal, em defesa das liberdades e garantias individuais; e uma esperança na luta de todos os Portugueses por salários que permitam viver, com horários decentes e condições mínimas de humanidade.

Costa é tão autista que perante as declarações da GNR e da PSP que afirmam não querer ser usados como fura greves respondeu, em público, que só fala com os comandos e generais, não com associações sindicais da Polícia – o povo, essa chatice. Costa revelou-se um desastre a gerir o mundo do trabalho – é um pequeno tirano. Era muito importante que perante a cegueira de Costa as outras instituições, como a PGR, não embarcassem na deriva bonapartista do homem que aos trabalhadores não tem nada a dar a não ser repressão e ameaças. O homem que só fala com generais.

10 thoughts on “Costa, o homem que só fala com generais

  1. A senhora está, cada vez mais, a ser ficcionista e demagoga. A sua obsessão por greves está a levá-la para o lado oposto à sanidade mental razoável. Não leve isto como um ataque pessoal, mas como desabafo ideológico. .

    • Se ter uma opinião fundamentada e isenta é ficcionismo e demagogia, pois então que venha mais. Porque aquilo a que chama de ficcionismo é uma análise fundamentada que esclarece as pessoas. Olhe, que eu tenho aprendido muito com os artigos da Sra. Raquel Varela.

    • Admitindo que as suas afirmações relativas a “sanidade mental” sw baseiem na sua formação profissional em Psicologia, quem sou em para o contradizer nesse aspecto.

      Outrossim, sobre a matéria em causa, gostaria de conhecer os _factos_ objectivos que, em sua opinião, contrariam aquilo que o leva a qualificar a autora como “ficcionista”.

    • Normalmente quando aparece uma opinião que não corresponde à onda em curso, também aparece logo quem a tente denegrir…..e também temos conhecimento que há gente paga pela onda para estar atenta, activa e praticar a contra-informação para anular as opiniões divergentes….será este o caso, eis a questão. DEPOIS DE VER O SÓCRATES ACTUAR….ESTE SEU DESCENDENTE É BEM PIOR…..e ainda os cidadãos não chegaram lá….

    • A senhora fez uma análise realista do que se está a passar…. Um profissional enquanto condutor de um pesado de transporte de matérias perigosas…. com 20 ou 30 anos de actividade profissional a auferir o ordenado base de 630 Euros… é no mínimo um caso de polícia!!!!

  2. Concordo em absoluto. Costa sempre que existe algo que o incomoda, como os incêndios e greves. revela cada vez mais a sua faceta autoritária. Costa, o negociador desaparece e dá lugar a um homem zangado e prepotente.
    Acreditei nele no inicio mas desiludiu-me absolutamente.

  3. Muito bem Raquel. Estou completamente de acordo. Viver hoje com um salário de base de 600 ou 700 euros é como insultar quem trabalha. Nada disto tem que ver com ideologia ou análise sociológica..é uma simples evidencia da não distribuição dos proveitos gerados por um grupo de pessoas que em conjunto exercem uma actividade. A empresa como lhe chamamos deixa 90% dos proveitos..com aqueles a que apelidamos de donos..distribuindo os restantes 10% . Estamos perante uma organização esclavagista em que dois ou por vezes apenas um ser humano..se apropria daquilo que por moral (esqueçamos o direito..pois esse fabrica-se como convém) não lhe pertence. Esta greve não vai a lado nenhum..os motoristas vão quebrar a união..( se é que existe ou existiu) e pouco vai mudar. Mas fica o sabor da Anarquia vislumbrada..que abre o apetite para o Sonho. Para mal já basta assim..! um admirador. Alberto Filipe.

  4. Hem? Esperem lá! Ninguém fala das ajudas de custo, subsídio de risco e outros afins que estes senhores levam mensalmente para casa?! Em muitas situações, estes profissionais conseguem ganhar mais que muitos como eu que têm 8 anos de formação especializada! Se quisermos falar dos entraves ao direito à greve ou do impacto que um salário baixo pode ter futuramente nos valores das respectivas reformas, ok, falemos disso… Mas não se pense que os motoristas são uns coitadinhos que têm menos dinheiro que o comum do cidadão para fazer face à vida.

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