Há democracia plena sem direito à informação segura?
Na semana passada fez capa de jornais o Relatório da OCDE, estou com os meus colegas à procura do Relatório e ninguém o encontra, isto é, os jornalistas não leram, analisaram, criticaram e nos informaram sobre o Relatório, limitaram-se a ir à conferência de imprensa e fazer aquilo que se chama de «microfone». Hoje, embora o tema me interesse, não sei dizer o que penso do Relatório, nem bem nem mal, só que não o conheço. Se assim é o jornalismo basta irmos aos sites do Governo e da OCDE ler os comunicados de imprensa. Para isso não é necessário uma redacção de jornal. O corolário disto é que nunca tivemos tantos jornais com tão poucas notícias.
Concordo. Isso está se tornando uma prática corrente. Projetos importantes, em discussão ou em curso de implementação, são reduzidos a paráfrases de despachos de agências em notas jornalísticas. O discurso jornalístico está levando ao máximo o seu imaginário da simplificação, sob pretexto de que o leitor não possui conhecimentos suficientes para matérias mais densas e informativas. Como cidadãos, temos que procurar as fontes, nem sempre consultáveis, para encontrar os documentos integrais. Isso ocorre com os projetos de reformas governamentais (no Brasil, por exemplo, como está difícil encontrar os documentos oficiais do governo sobre a reforma da previdência, ficamos pulando de um jornal a outro em um exercício complexo de análise e colagem que necessita de um pensamento crítico poderoso. O plano de ação mundial do FMI, por exemplo, está reduzido, em jornais importantes em vários países, a notas e matérias parafrásticas e redundantes, em que o ponto de vista dominante é o do próprio FMI. Nesse caso, pelo menos, pode-se ir à página da instituição e consultar os documentos originais. Mas nem sempre é assim.